Pago os cafés e saio para a rua. Vejo ao longe o senhor João que voltava do mercado com um saco na mão. Dirijo-me a ele. Recebe-me como sempre com um sorriso, mas desta vez não retribuo.
- Mas você pensa que anda a gozar comigo? Viu-me ou não me viu com a Inês ontem à tarde?
- Do que estás a falar António?
- Dos três cafés que tive que pagar! Da prova em como estive com outra pessoa ontem a tarde naquela mesa onde me sento sempre.
O seu semblante fica carregado e denotando cansaço na voz diz-me:
- Temos que falar, vem até minha casa.
Sigo-o em silêncio. Subimos ao segundo andar do prédio em que situava o café e sento-me num sofá antigo na saleta que muito provavelmente era utilizada como escritório. Não tem muitos livros nas estantes. São mais os papéis empilhados, os arquivos mortos com facturações e balanços que propriamente romances ou ensaios. Também, o que seria de esperar de um velho comerciante que tinha feito a sua vida à base de números? Vidas matemáticas raramente dão lugar às letras e quando o dão são letras cruas, semi mortas, desprovidas de qualquer sentido sentimental ou figurado. Há, no entanto, um livro que me desperta a atenção, aliás, por detrás encontram-se mais, o autor é sempre o mesmo, Allan Kardec, dentro de um deles, está uma foto do senhor João e de mais duas pessoas junto ao túmulo do autor em Paris. Sinto-me intrigado como é que um vulgar dono de café se pode interessar no ocultismo, mais propriamente no espiritismo.
Volto a pôr o livro no lugar no preciso instante em que o senhor João volta da cozinha e se acerca de mim.
- Senta-te António. De facto, não estiveste sozinho ontem a tarde.
- O que se está a passar? Porque me mentiu?
- Eu não te menti, só queria que te apercebesses da verdade por ti. Não estiveste sozinho, mas também não estiveste acompanhado, ou melhor, só houve um café tirado na máquina.
- Mas que história é essa? Não estou a entender nada…
- Deixei três cafés apontados, precisamente para suscitar a tua curiosidade, mas está na hora de te contar a verdade.
- Acho bem.
- Então é assim, a Inês esteve de facto contigo ontem, mas ela não está mais neste mundo, não está mais no nosso plano. O vosso sentimento prende-a cá e tu precisas de a deixar ir.
- A Inês morreu?
- António… a Inês matou-se…. Fez precisamente ontem sete anos…
sexta-feira, 10 de abril de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Sem Ti (R) - capítulo XIII
Acordo sem conseguir abrir os olhos. O sol inunda todo o quarto.
A muito custo levanto-me e cambaleio até à cozinha. O cheiro a café acabado de fazer inunda a casa.
Movo-me como um autómato. Pego uma caneca que encho de café e dirijo-me para a sala. Como sempre, um bilhete da Joana em cima da mesa.
"Sabes que te amo não sabes? Quando sair vou às compras, por volta das seis estou em casa. Amo-te, temos que falar."
O dia começa igual a todos os outros. Dobro o bilhete, amarroto-o e jogo-o no lixo como faço sempre. Não sei se ela repara, mas a verdade é que não quero saber. Estes bilhetes são ridículos, já o eram antes, muito mais o são agora.
O café começa a fazer efeito e começo a recordar todo o dia que passou. A Inês, o farol, a Joana na praceta a falar, os corvos, o vulto sinistro. Arrepio-me. Preciso fazer alguma coisa. Tenho que saber o que aconteceu ontem.
Tomo um duche rápido e decido ir falar de novo com o senhor João. Não era normal ele não se lembrar de nada.
Embora o sol brilhasse, o dia não estava ameno. O buliço normal da manhã ocupava toda a rua. Pessoas carregadas de compras, carros comerciais a fazerem entregas, o carteiro, varredores de rua, tudo aparenta a normalidade de sempre. Até eu me sinto normal, o mesmo andar dormente, errático, ora lento ora rápido, de os olhos sempre no chão.
Acendo um cigarro e entro no café.
- Bom dia Nucha, o teu pai está?
- Olá, não sei nada dele. Saiu, acho que foi à praça comprar o peixe para os almoços.
- Ok, dá-me um café então.
De cigarro na boca e bica fumegante, olho a mesa onde ontem tinha estado com ela. Aproximo-me e sinto o seu cheiro. Como se ainda ali estivéssemos. Toco a cadeira onde ela se sentou, o assento, as costas, suavemente com os meus dedos. Fecho os olhos, sinto-a.
- Sr António? Está tudo bem?
A voz irritante da adolescente Nucha devolve-me à realidade. Apetece-me ofendê-la, como se atrevia a retirar o meu tempo com a Inês?
- Tá sim Nucha, olha, quero pagar este café e o de ontem, que me esqueci de pagar.
- Sim, o meu pai disse-me que estava aqui um papelinho com os fiados de ontem, deixe-me só ver se o encontro.
Olho-a impaciente enquanto rebusca uma pequena prateleira de plástico atolada em papéis, facturas, catálogos, lixo em geral. Distraio-me a pensar em como vou fazer para encontrar a Inês, talvez vá à sua antiga casa, que era dos pais embora não vivessem lá. Ou podia procurar a Ju, que era a sua melhor amiga e trabalhava no hospital, se bem que a última vez que a vira fora há cinco anos.
Com o seu sorriso de adolescente irritante e aparelho azul nos dentes, Nucha mostra-me o papel com um ar de triunfo, como se tivesse descoberto a pólvora.
- Aqui está, tava difícil... hihihihi
- Nucha, são dois cafés, nada mais, eu já te tinha dito, o de hoje e o de ontem.
- Não sr António, com o de hoje são três, veja lá, o meu pai escreveu que o senhor pagava o seu e o de uma senhora que esteve consigo que também saiu sem pagar. Tá a ver?
- Mostra-me já isso!
A prova que necessitava, afinal, tudo tinha sido real. Aquele mísero papel, escrito por um dono de café que me mentira não sei porquê, mostrava que o dia de ontem, em toda a sua estranheza, tinha acontecido mesmo...
A muito custo levanto-me e cambaleio até à cozinha. O cheiro a café acabado de fazer inunda a casa.
Movo-me como um autómato. Pego uma caneca que encho de café e dirijo-me para a sala. Como sempre, um bilhete da Joana em cima da mesa.
"Sabes que te amo não sabes? Quando sair vou às compras, por volta das seis estou em casa. Amo-te, temos que falar."
O dia começa igual a todos os outros. Dobro o bilhete, amarroto-o e jogo-o no lixo como faço sempre. Não sei se ela repara, mas a verdade é que não quero saber. Estes bilhetes são ridículos, já o eram antes, muito mais o são agora.
O café começa a fazer efeito e começo a recordar todo o dia que passou. A Inês, o farol, a Joana na praceta a falar, os corvos, o vulto sinistro. Arrepio-me. Preciso fazer alguma coisa. Tenho que saber o que aconteceu ontem.
Tomo um duche rápido e decido ir falar de novo com o senhor João. Não era normal ele não se lembrar de nada.
Embora o sol brilhasse, o dia não estava ameno. O buliço normal da manhã ocupava toda a rua. Pessoas carregadas de compras, carros comerciais a fazerem entregas, o carteiro, varredores de rua, tudo aparenta a normalidade de sempre. Até eu me sinto normal, o mesmo andar dormente, errático, ora lento ora rápido, de os olhos sempre no chão.
Acendo um cigarro e entro no café.
- Bom dia Nucha, o teu pai está?
- Olá, não sei nada dele. Saiu, acho que foi à praça comprar o peixe para os almoços.
- Ok, dá-me um café então.
De cigarro na boca e bica fumegante, olho a mesa onde ontem tinha estado com ela. Aproximo-me e sinto o seu cheiro. Como se ainda ali estivéssemos. Toco a cadeira onde ela se sentou, o assento, as costas, suavemente com os meus dedos. Fecho os olhos, sinto-a.
- Sr António? Está tudo bem?
A voz irritante da adolescente Nucha devolve-me à realidade. Apetece-me ofendê-la, como se atrevia a retirar o meu tempo com a Inês?
- Tá sim Nucha, olha, quero pagar este café e o de ontem, que me esqueci de pagar.
- Sim, o meu pai disse-me que estava aqui um papelinho com os fiados de ontem, deixe-me só ver se o encontro.
Olho-a impaciente enquanto rebusca uma pequena prateleira de plástico atolada em papéis, facturas, catálogos, lixo em geral. Distraio-me a pensar em como vou fazer para encontrar a Inês, talvez vá à sua antiga casa, que era dos pais embora não vivessem lá. Ou podia procurar a Ju, que era a sua melhor amiga e trabalhava no hospital, se bem que a última vez que a vira fora há cinco anos.
Com o seu sorriso de adolescente irritante e aparelho azul nos dentes, Nucha mostra-me o papel com um ar de triunfo, como se tivesse descoberto a pólvora.
- Aqui está, tava difícil... hihihihi
- Nucha, são dois cafés, nada mais, eu já te tinha dito, o de hoje e o de ontem.
- Não sr António, com o de hoje são três, veja lá, o meu pai escreveu que o senhor pagava o seu e o de uma senhora que esteve consigo que também saiu sem pagar. Tá a ver?
- Mostra-me já isso!
A prova que necessitava, afinal, tudo tinha sido real. Aquele mísero papel, escrito por um dono de café que me mentira não sei porquê, mostrava que o dia de ontem, em toda a sua estranheza, tinha acontecido mesmo...
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Sem Ti (R) - capítulo XII
Fico a assistir à cena enquanto fumo o cigarro.
Nota-se a cumplicidade entre ambos, mas o que inicialmente pensava ser o verdadeiro pai do filho que a Joana carregava dentro de si, revelava-se agora uma mulher. Um pouco mais alta que ela, era a mais activa no diálogo. Joana ouvia-a cabisbaixa. Tinha que ver quem era.
Vou a sala, pego os óculos que uso só para conduzir e que invariavelmente ficam na mesa de apoio junto ao sofá, e volto para a varanda.
O vento sopra agora forte. O espanta espíritos dança e tilinta qual bailarina, olho o parque de estacionamento, sempre com os mesmo carros. Vazio. Onde foram? Debruço-me na varanda, olho para todos os lados, mas não está ninguém na rua. Um silêncio ensurdecedor enche a atmosfera da pequena praceta onde todos sem excepção estacionam após um longo dia de trabalho.
Viro as costas. Passo a mão pelo cabelo. Onde poderiam estar?
Sem me permitir qualquer reacção, algo me empurra contra o vidro da porta de acesso da sala à varanda. O silêncio ensurdecedor foi agora substituído por crucitar de centenas de corvos que me tentam agarrar e levar. Afasto-os furiosamente.
Deito-me no chão e rastejo para dentro da cozinha. Fecho a porta e vejo-os investirem furiosamente contra o vidro.
Levanto-me, examino-me ao pormenor, mas não estou ferido. Nem uma pena de corvo. Nem um arranhão.
De repente todas as luzes se apagam. Na cozinha, na casa, no prédio, na rua.
O silêncio de novo. Parado na minha frente, a pouco mais de dois metros de mim, um vulto. Altivo, gabardine, chapéu, olhos semi-cerrados vermelho brilhantes.
Engulo em seco. Estou em pânico mas a única reacção que tenho é,
- Quem está aí?
- Ahahahahahah já não te lembras de mim António?
- Quem és tu?
- É o último aviso. Deixa-a ir. O lugar dela não é aqui.
Nada daquilo me fazia sentido. Quem era aquele homem, o que me queria, que estava ali a fazer?
Aproximo-me dele e um cheiro forte que já tinha sentido a impregnar a sala, torna-se insuportável.
- Chega!! Estás avisado!
Todas as luzes se acendem! Ofuscado pela luminosidade repentina, levo a mão aos olhos. Quando me recomponho tudo está igual. O vulto desaparecera, o cheiro também, só o meu medo continua.
Vou de novo a casa de banho, acendendo todas as luzes no caminho.
Lavo a cara, o pescoço, os olhos, a boca. Fico a ver uma gota de sangue que me cai do nariz e resvala pela bacia deixando atrás de si um rasto macabro.
Vou para o quarto. Olho a meia luz a cama onde a Joana dorme profundamente.
Fico de pé parado, a olhá-la por um tempo que perdi a conta.
Não sei o que pensar, o que fazer. Teria sido tudo imaginação minha?
Sento-me na cama, abro a gaveta da mesa de cabeceira, tomo dois comprimidos que retiro de uma caixa semi desfeita.
Deito-me a seu lado, fecho os olhos, e deixo a fórmula química fazer o deu milagre.
O meu ultimo pensamento da noite vai para a Inês. Onde poderia ela estar?
Nota-se a cumplicidade entre ambos, mas o que inicialmente pensava ser o verdadeiro pai do filho que a Joana carregava dentro de si, revelava-se agora uma mulher. Um pouco mais alta que ela, era a mais activa no diálogo. Joana ouvia-a cabisbaixa. Tinha que ver quem era.
Vou a sala, pego os óculos que uso só para conduzir e que invariavelmente ficam na mesa de apoio junto ao sofá, e volto para a varanda.
O vento sopra agora forte. O espanta espíritos dança e tilinta qual bailarina, olho o parque de estacionamento, sempre com os mesmo carros. Vazio. Onde foram? Debruço-me na varanda, olho para todos os lados, mas não está ninguém na rua. Um silêncio ensurdecedor enche a atmosfera da pequena praceta onde todos sem excepção estacionam após um longo dia de trabalho.
Viro as costas. Passo a mão pelo cabelo. Onde poderiam estar?
Sem me permitir qualquer reacção, algo me empurra contra o vidro da porta de acesso da sala à varanda. O silêncio ensurdecedor foi agora substituído por crucitar de centenas de corvos que me tentam agarrar e levar. Afasto-os furiosamente.
Deito-me no chão e rastejo para dentro da cozinha. Fecho a porta e vejo-os investirem furiosamente contra o vidro.
Levanto-me, examino-me ao pormenor, mas não estou ferido. Nem uma pena de corvo. Nem um arranhão.
De repente todas as luzes se apagam. Na cozinha, na casa, no prédio, na rua.
O silêncio de novo. Parado na minha frente, a pouco mais de dois metros de mim, um vulto. Altivo, gabardine, chapéu, olhos semi-cerrados vermelho brilhantes.
Engulo em seco. Estou em pânico mas a única reacção que tenho é,
- Quem está aí?
- Ahahahahahah já não te lembras de mim António?
- Quem és tu?
- É o último aviso. Deixa-a ir. O lugar dela não é aqui.
Nada daquilo me fazia sentido. Quem era aquele homem, o que me queria, que estava ali a fazer?
Aproximo-me dele e um cheiro forte que já tinha sentido a impregnar a sala, torna-se insuportável.
- Chega!! Estás avisado!
Todas as luzes se acendem! Ofuscado pela luminosidade repentina, levo a mão aos olhos. Quando me recomponho tudo está igual. O vulto desaparecera, o cheiro também, só o meu medo continua.
Vou de novo a casa de banho, acendendo todas as luzes no caminho.
Lavo a cara, o pescoço, os olhos, a boca. Fico a ver uma gota de sangue que me cai do nariz e resvala pela bacia deixando atrás de si um rasto macabro.
Vou para o quarto. Olho a meia luz a cama onde a Joana dorme profundamente.
Fico de pé parado, a olhá-la por um tempo que perdi a conta.
Não sei o que pensar, o que fazer. Teria sido tudo imaginação minha?
Sento-me na cama, abro a gaveta da mesa de cabeceira, tomo dois comprimidos que retiro de uma caixa semi desfeita.
Deito-me a seu lado, fecho os olhos, e deixo a fórmula química fazer o deu milagre.
O meu ultimo pensamento da noite vai para a Inês. Onde poderia ela estar?
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Sem Ti (R) - capítulo XI
- Onde estiveste? Estás encharcado...
Sabia-me bem aquele calor humano. Um calor humano que as paixões não trazem. O calor de quem ama pela amizade e não pelo ardor.
Joana, minha eterna companheira. Depois de tudo o que te tinha dito e feito, o amor e compaixão para comigo enternecem-me, desarmam-me e sou uma criança nos teus braços. Leva-me contigo, apaga-me a memória desta noite, o sofrimento desta vida. Sinto-me triste por não te conseguir amar.
Chegamos a casa. Dispo-me e enfio-me na cama. Não tomo banho. Quero o cheiro dela impregnado em mim. O sabor na minha boca. O calor que sinto só de a pensar nua à minha frente.
A Joana fala de algo que nem oiço. Estou longe, não quero saber.
Adoro a sua presença, a forma como me idolatra, como me ama, como faz tudo por mim. A forma como prescinde de si para me dar tudo. Preciso dela, da sua energia, para a sugar e continuar a viver no meu mundo. No mundo só meu e da Inês. Minha Inês... onde estás?
- Queres falar?
- Do quê?
- Do nosso bébé.
- Não é nosso, eu não posso ter filhos.
Silêncio sepulcral. Viro-me para o lado, ajeito a almofada, acaricio os meus cabelos, imaginando os seus dedos longos, molhados pela tempestade. Os olhos pesam-me, a alma dói-me, que vou fazer amanhã?
- Desculpa....
Não lhe respondo. É-me indiferente se dá o seu corpo a outro.
Adormeço num sono profundo. Pesadelos, toda a noite pesadelos. Gritos, sangue, eu a fazer amor com a Inês morta, caída na falésia. A Joana grávida. Um homem sem rosto, de bata, uma luz ofuscante, crianças a atirarem-me pedras. Um supermercado. A polícia. Eu a fugir num carro que não é o meu. Um grito ensurdecedor. Quero gritar, não consigo, o seu rosto, frente a frente com o meu, olhos abertos, a saírem das órbitas, uma súplica, SALVA-ME!
Acordo mergulhado em suor. Levanto-me e vou lavar a cara. A Joana não está. Onde pode ter ido, a esta hora... 03h33m... a mesma de todo os dias.
O zumbido da luz da casa de banho é insuportável. Volto para a cama.
Tento adormecer. Não consigo. Vou fumar um cigarro à varanda.
Os cães ladram ao longe e afugentam um ou outro gato. Ao longe duas pessoas discutem e esbracejam junto a um carro. O meu carro. Um arrepio confuso, de frio e espanto, faz-me estremecer.
À distância, no frio, na noite reconheço na perfeição a silhueta da Joana...
Sabia-me bem aquele calor humano. Um calor humano que as paixões não trazem. O calor de quem ama pela amizade e não pelo ardor.
Joana, minha eterna companheira. Depois de tudo o que te tinha dito e feito, o amor e compaixão para comigo enternecem-me, desarmam-me e sou uma criança nos teus braços. Leva-me contigo, apaga-me a memória desta noite, o sofrimento desta vida. Sinto-me triste por não te conseguir amar.
Chegamos a casa. Dispo-me e enfio-me na cama. Não tomo banho. Quero o cheiro dela impregnado em mim. O sabor na minha boca. O calor que sinto só de a pensar nua à minha frente.
A Joana fala de algo que nem oiço. Estou longe, não quero saber.
Adoro a sua presença, a forma como me idolatra, como me ama, como faz tudo por mim. A forma como prescinde de si para me dar tudo. Preciso dela, da sua energia, para a sugar e continuar a viver no meu mundo. No mundo só meu e da Inês. Minha Inês... onde estás?
- Queres falar?
- Do quê?
- Do nosso bébé.
- Não é nosso, eu não posso ter filhos.
Silêncio sepulcral. Viro-me para o lado, ajeito a almofada, acaricio os meus cabelos, imaginando os seus dedos longos, molhados pela tempestade. Os olhos pesam-me, a alma dói-me, que vou fazer amanhã?
- Desculpa....
Não lhe respondo. É-me indiferente se dá o seu corpo a outro.
Adormeço num sono profundo. Pesadelos, toda a noite pesadelos. Gritos, sangue, eu a fazer amor com a Inês morta, caída na falésia. A Joana grávida. Um homem sem rosto, de bata, uma luz ofuscante, crianças a atirarem-me pedras. Um supermercado. A polícia. Eu a fugir num carro que não é o meu. Um grito ensurdecedor. Quero gritar, não consigo, o seu rosto, frente a frente com o meu, olhos abertos, a saírem das órbitas, uma súplica, SALVA-ME!
Acordo mergulhado em suor. Levanto-me e vou lavar a cara. A Joana não está. Onde pode ter ido, a esta hora... 03h33m... a mesma de todo os dias.
O zumbido da luz da casa de banho é insuportável. Volto para a cama.
Tento adormecer. Não consigo. Vou fumar um cigarro à varanda.
Os cães ladram ao longe e afugentam um ou outro gato. Ao longe duas pessoas discutem e esbracejam junto a um carro. O meu carro. Um arrepio confuso, de frio e espanto, faz-me estremecer.
À distância, no frio, na noite reconheço na perfeição a silhueta da Joana...
domingo, 25 de janeiro de 2009
Sem Ti (R) - capítulo X
Como um louco, à chuva, ao vento, ao medo e à angustia, grito de peito cheio por ela. Espreito a falésia supondo o pior, e nada. Só o vento, a chuva e o mar irado me fazem companhia.
A minha cabeça parecia explodir e o coração angustiado batia como um louco, onde estás Inês?...
Um mundo de possibilidades povoa os meus medos. A falta de lógica de toda aquela situação estava a deixar-me louco. Nem 5 minutos tinham passado desde a minha atitude irreflectida e nem rasto dela... para onde poderia ter ido.
Na estrada, único caminho de acesso, não a tinha visto. Teria caído, ou saltado? A vergonha te-la-ia levado a um acto assim desesperado?
Sem saber o que fazer, meto-me no carro e sigo para a casa dela. O facto de ser impossível ter lá chegado antes de mim, não se punha como hipótese. Um homem desesperado não pensa, age, mesmo que a atitude seja a menos lógica e mais estúpida.
Sinto que voei aqueles quilómetros.
Num instante chego à rua do número 34, que durante a tarde ela me tinha referido. Como de costume, o senhor João carregava os últimos sacos do lixo do café, mesmo ao lado da porta da nova casa de Inês e onde nessa tarde a minha vida começara a mudar.
- Senhor João.... viu a Inês?
- Olá António, vi quem?
- A Inês senhor João, a rapariga que esteve comigo no café esta tarde.
- Contigo no café? Tu estás bem António? Tu estiveste sozinho esta tarde...
- Senhor João, deixe-se de brincadeiras, isto é coisa séria. Viu-a passar aqui?
- Oh António, queres entrar e beber algo? Estás com uma cara...
- Deixe-se de merdas!! Viu-a ou não???
- Juro pela minha santa mãezinha que estiveste sozinho esta tarde homem! Entraste, bebeste o café e saíste esbaforido e nem te lembraste de pagar, parecia que tinhas visto um diabo!
Um arrepio na espinha, faz-me estremecer todo. O senhor João acreditava mesmo que eu tinha estado sozinho naquela tarde. Estava louco, só podia.
Deixo-o na beira do passeio e dou-lhe as costas. O número 34 era mesmo ao virar da esquina.
Fios de fora, pastilhas coladas, o painel das campainhas parecia tudo menos algo que funcionasse, ainda assim, a do seu apartamento estava intacta.
Pressiono uma, duas, três vezes. Insisto. Vem me à memória a impossibilidade dela já ter chegado ali. Uma imagem dela, nua, estatelada nas rochas, com mar a lavar o sangue invade-me e as lágrimas caem sem que as consiga conter.
Perdi a conta ao tempo que tive o dedo sobre a campainha. Prestes a desistir, oiço uma voz do outro lado:
- Quem é???
- Inês? És tu??
- Você devia ter vergonha! Bêbedo!!! Não aqui nenhuma Inês, vá para casa ou chamo a polícia.
- Abre a porta Inês, ou rebento-a a pontapé!
- Mas você está parvo? Já lhe disse que não há aqui nenhuma Inês, e olhe que há mais de 20 anos que vivo aqui!
O tom sincero da sua voz desarma-me. Sem saber o que fazer, sento-me no passeio.
A chuva já não cai, o vento já não sopra. O que pode ter acontecido? Será que ela me mentiu? Como foi possível o senhor João não nos ter visto? E no farol? O que aconteceu?
De braços caídos, de coração desalentado, olhos mortiços e lábios a tremer, sinto uma mão tocar-me o ombro. Um toque que tão bem conheço.
- Vamos para casa?
Sem responder, levanto-me e acompanho-a.
A minha cabeça parecia explodir e o coração angustiado batia como um louco, onde estás Inês?...
Um mundo de possibilidades povoa os meus medos. A falta de lógica de toda aquela situação estava a deixar-me louco. Nem 5 minutos tinham passado desde a minha atitude irreflectida e nem rasto dela... para onde poderia ter ido.
Na estrada, único caminho de acesso, não a tinha visto. Teria caído, ou saltado? A vergonha te-la-ia levado a um acto assim desesperado?
Sem saber o que fazer, meto-me no carro e sigo para a casa dela. O facto de ser impossível ter lá chegado antes de mim, não se punha como hipótese. Um homem desesperado não pensa, age, mesmo que a atitude seja a menos lógica e mais estúpida.
Sinto que voei aqueles quilómetros.
Num instante chego à rua do número 34, que durante a tarde ela me tinha referido. Como de costume, o senhor João carregava os últimos sacos do lixo do café, mesmo ao lado da porta da nova casa de Inês e onde nessa tarde a minha vida começara a mudar.
- Senhor João.... viu a Inês?
- Olá António, vi quem?
- A Inês senhor João, a rapariga que esteve comigo no café esta tarde.
- Contigo no café? Tu estás bem António? Tu estiveste sozinho esta tarde...
- Senhor João, deixe-se de brincadeiras, isto é coisa séria. Viu-a passar aqui?
- Oh António, queres entrar e beber algo? Estás com uma cara...
- Deixe-se de merdas!! Viu-a ou não???
- Juro pela minha santa mãezinha que estiveste sozinho esta tarde homem! Entraste, bebeste o café e saíste esbaforido e nem te lembraste de pagar, parecia que tinhas visto um diabo!
Um arrepio na espinha, faz-me estremecer todo. O senhor João acreditava mesmo que eu tinha estado sozinho naquela tarde. Estava louco, só podia.
Deixo-o na beira do passeio e dou-lhe as costas. O número 34 era mesmo ao virar da esquina.
Fios de fora, pastilhas coladas, o painel das campainhas parecia tudo menos algo que funcionasse, ainda assim, a do seu apartamento estava intacta.
Pressiono uma, duas, três vezes. Insisto. Vem me à memória a impossibilidade dela já ter chegado ali. Uma imagem dela, nua, estatelada nas rochas, com mar a lavar o sangue invade-me e as lágrimas caem sem que as consiga conter.
Perdi a conta ao tempo que tive o dedo sobre a campainha. Prestes a desistir, oiço uma voz do outro lado:
- Quem é???
- Inês? És tu??
- Você devia ter vergonha! Bêbedo!!! Não aqui nenhuma Inês, vá para casa ou chamo a polícia.
- Abre a porta Inês, ou rebento-a a pontapé!
- Mas você está parvo? Já lhe disse que não há aqui nenhuma Inês, e olhe que há mais de 20 anos que vivo aqui!
O tom sincero da sua voz desarma-me. Sem saber o que fazer, sento-me no passeio.
A chuva já não cai, o vento já não sopra. O que pode ter acontecido? Será que ela me mentiu? Como foi possível o senhor João não nos ter visto? E no farol? O que aconteceu?
De braços caídos, de coração desalentado, olhos mortiços e lábios a tremer, sinto uma mão tocar-me o ombro. Um toque que tão bem conheço.
- Vamos para casa?
Sem responder, levanto-me e acompanho-a.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Sem Ti (R) - capítulo IX
- O que foi isto?
- Como assim?
- Desculpa, ainda não estou em mim.
- Oh António, deixa-te de cenas, fizemos sexo, nada mais. Vá anda para dentro se não ainda nos constipamos.
Pegamos as roupas do chão, totalmente encharcadas, e vamos para dentro do carro. Ligo o ar quente e tentamos em vão secar as peças mais importantes. Boquiaberto olho mais uma vez o seu corpo. Nunca gostei de mulheres consideradas perfeitas. Demasiado magras, demasiado esbeltas. Um mulher para mim tinha que ter curvas. Tinha que ser bela e não bonita, natural mas charmosa. Inês sempre tinha sido bonita, mas agora a idade tinha-lhe trazido a beleza. Os seios já não tão firmes, as suaves rugas de expressão, um pouco de celulite aqui e ali eram o sinal que ostentava: "Eu já vivi" e isso dava-lhe um encanto único.
- O que estás a olhar?
- Eu... nada. Desculpa esta tarde ter-te deixado assim lá, sozinha.
- Não faz mal, depois de tudo o que se passou, não te podia pedir mais.
- Sim...
- Mas então, conta-me, o que tens feito? És casado? Sempre te imaginei casado e com um monte de filhos... ai desculpa... esqueci-me.
- Não faz mal. É algo com que já aprendi a lidar. Não é o fim do mundo.
- Pois não, mas há 10 anos atrás era.
- Sete anos...
- Sim isso, é o mesmo.
- Não Inês, é o mesmo para quem não os passou a sofrer. Para quem tomou a decisão de partir sem dizer nada só pelo facto da pessoa que amava não poder ter filhos. Não é o mesmo para quem contou dias, horas, segundos na esperança que regressasses e me explicasses ao menos porquê????
- Eu sei...
- NÃO! Não sabes... Sai do carro!
- O quê? Tás doido? Chove a potes, estamos no meio de nenhures!
- Sai do carro Inês! Foi só sexo não foi? Queres que te pague é? Quanto é? Quanto levas por fazer isto??
- Eu não te admito António...
Nunca fui um homem corpulento, nem com muita força, mas tinha a suficiente para a empurrar para fora do carro.
Deixo-a completamente nua, naquele descampado e nem olho para o retrovisor.
Cego de fúria, cego de desilusão, cego pelo rancor que acumulei todos estes anos parto estrada fora sem remorsos.
Como é que ela ainda se atrevera a dizer que me amava?
Todo o ódio não chega para me tirar estas palavras da cabeça "Eu amo-te", batem e ecoam, voltam a bater e ressoam ainda com mais força.
De olhos marejados de lágrimas, dou meia volta em direcção ao farol.
A chuva está cada vez mais intensa.
Paro o carro, saio para a intempérie.
- Inês!!!!!
- Inês!!!!! Onde estás?
Só os trovões respondem.
- Como assim?
- Desculpa, ainda não estou em mim.
- Oh António, deixa-te de cenas, fizemos sexo, nada mais. Vá anda para dentro se não ainda nos constipamos.
Pegamos as roupas do chão, totalmente encharcadas, e vamos para dentro do carro. Ligo o ar quente e tentamos em vão secar as peças mais importantes. Boquiaberto olho mais uma vez o seu corpo. Nunca gostei de mulheres consideradas perfeitas. Demasiado magras, demasiado esbeltas. Um mulher para mim tinha que ter curvas. Tinha que ser bela e não bonita, natural mas charmosa. Inês sempre tinha sido bonita, mas agora a idade tinha-lhe trazido a beleza. Os seios já não tão firmes, as suaves rugas de expressão, um pouco de celulite aqui e ali eram o sinal que ostentava: "Eu já vivi" e isso dava-lhe um encanto único.
- O que estás a olhar?
- Eu... nada. Desculpa esta tarde ter-te deixado assim lá, sozinha.
- Não faz mal, depois de tudo o que se passou, não te podia pedir mais.
- Sim...
- Mas então, conta-me, o que tens feito? És casado? Sempre te imaginei casado e com um monte de filhos... ai desculpa... esqueci-me.
- Não faz mal. É algo com que já aprendi a lidar. Não é o fim do mundo.
- Pois não, mas há 10 anos atrás era.
- Sete anos...
- Sim isso, é o mesmo.
- Não Inês, é o mesmo para quem não os passou a sofrer. Para quem tomou a decisão de partir sem dizer nada só pelo facto da pessoa que amava não poder ter filhos. Não é o mesmo para quem contou dias, horas, segundos na esperança que regressasses e me explicasses ao menos porquê????
- Eu sei...
- NÃO! Não sabes... Sai do carro!
- O quê? Tás doido? Chove a potes, estamos no meio de nenhures!
- Sai do carro Inês! Foi só sexo não foi? Queres que te pague é? Quanto é? Quanto levas por fazer isto??
- Eu não te admito António...
Nunca fui um homem corpulento, nem com muita força, mas tinha a suficiente para a empurrar para fora do carro.
Deixo-a completamente nua, naquele descampado e nem olho para o retrovisor.
Cego de fúria, cego de desilusão, cego pelo rancor que acumulei todos estes anos parto estrada fora sem remorsos.
Como é que ela ainda se atrevera a dizer que me amava?
Todo o ódio não chega para me tirar estas palavras da cabeça "Eu amo-te", batem e ecoam, voltam a bater e ressoam ainda com mais força.
De olhos marejados de lágrimas, dou meia volta em direcção ao farol.
A chuva está cada vez mais intensa.
Paro o carro, saio para a intempérie.
- Inês!!!!!
- Inês!!!!! Onde estás?
Só os trovões respondem.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Sem Ti (R) - capítulo VIII
Saio do carro deixando-a semi nua. O temporal adensa-se dentro e fora de mim. A chuva cai em bátegas intensas e os trovões dançam com os relâmpagos a mentira que tentam passar de que não são simultâneos. Eu vivi nessa mentira durante todo este tempo. O amor que desejava não existia, e o senso comum só me deixou ver o que tinha diante dos olhos. A mágoa e o desespero não me deixavam ver mais além.
Aproximo-me da beira da falésia. A minha vontade é saltar, deixar tudo para trás. As minhas ilusões, os meus sonhos, a raiva e a desilusão. Sinto-me a tombar, sem saber se é só a minha vontade ou o vento que conspira pelo meu adeus a tudo.
Sinto os seus dedos a enterrarem-se no meu braço.
Com brusquidão puxa-me, atira-me para cima do capô do carro, abre-me a camisa, e beijando e mordendo, percorre-me o pescoço, as orelhas, o peito. Demora-se nos mamilos e, roçando a dor, arranha-me com um prazer que pelo seu olhar sei que é mútuo. Despe-se toda. Despe-me todo. Não conheço esta Inês que louca de prazer me possui.
Nus, em cima do carro, ela sobre mim, alheios à chuva e ao frio, ao vento e à tempestade que ameaça subir a falésia e salpicar-nos de sal, volto a senti-la, por dentro, e sabe-me bem a sua excitação. Sabe-me bem o seu gemer que se confunde com os trovões, sabe-me bem o frio que ignoro, pois por dentro todo eu sou um fogo que se deseja libertar nela. O mar começa a uivar, as ondas a baterem no seu compasso sem harmonia oposto ao compasso em que os nossos corpos chocam uma e outra vez, uma e outra vez, uma e outra vez. A luz dos relâmpagos ilumina a sua face rosada, sinto o seu corpo contrair-se, sinto dentro dela essas contracções. Não quero parar, não consigo parar. Um onda bate lá em baixo, o céu ilumina-se com um trovão ensurdecedor, e eu, vulcão em plena erupção não me contenho mais e sou teu... minha amante perfeita. Agarro-a nos ombros, e puxando-a para baixo, sinto o orgasmo mais prolongado que alguma vez senti. Não consigo parar de tremer, não quero deixar de a ouvir gemer.
No meio da tempestade fomos um só.
Ofegantes beijamo-nos. Ela deixa-se cair a meu lado e, deitados na chapa fria de um carro velho, de olhos semi-cerrados pela chuva que cai, dizemos em uníssono:
- Eu amo-te.
Aproximo-me da beira da falésia. A minha vontade é saltar, deixar tudo para trás. As minhas ilusões, os meus sonhos, a raiva e a desilusão. Sinto-me a tombar, sem saber se é só a minha vontade ou o vento que conspira pelo meu adeus a tudo.
Sinto os seus dedos a enterrarem-se no meu braço.
Com brusquidão puxa-me, atira-me para cima do capô do carro, abre-me a camisa, e beijando e mordendo, percorre-me o pescoço, as orelhas, o peito. Demora-se nos mamilos e, roçando a dor, arranha-me com um prazer que pelo seu olhar sei que é mútuo. Despe-se toda. Despe-me todo. Não conheço esta Inês que louca de prazer me possui.
Nus, em cima do carro, ela sobre mim, alheios à chuva e ao frio, ao vento e à tempestade que ameaça subir a falésia e salpicar-nos de sal, volto a senti-la, por dentro, e sabe-me bem a sua excitação. Sabe-me bem o seu gemer que se confunde com os trovões, sabe-me bem o frio que ignoro, pois por dentro todo eu sou um fogo que se deseja libertar nela. O mar começa a uivar, as ondas a baterem no seu compasso sem harmonia oposto ao compasso em que os nossos corpos chocam uma e outra vez, uma e outra vez, uma e outra vez. A luz dos relâmpagos ilumina a sua face rosada, sinto o seu corpo contrair-se, sinto dentro dela essas contracções. Não quero parar, não consigo parar. Um onda bate lá em baixo, o céu ilumina-se com um trovão ensurdecedor, e eu, vulcão em plena erupção não me contenho mais e sou teu... minha amante perfeita. Agarro-a nos ombros, e puxando-a para baixo, sinto o orgasmo mais prolongado que alguma vez senti. Não consigo parar de tremer, não quero deixar de a ouvir gemer.
No meio da tempestade fomos um só.
Ofegantes beijamo-nos. Ela deixa-se cair a meu lado e, deitados na chapa fria de um carro velho, de olhos semi-cerrados pela chuva que cai, dizemos em uníssono:
- Eu amo-te.
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