domingo, 25 de janeiro de 2009

Sem Ti (R) - capítulo X

Como um louco, à chuva, ao vento, ao medo e à angustia, grito de peito cheio por ela. Espreito a falésia supondo o pior, e nada. Só o vento, a chuva e o mar irado me fazem companhia.
A minha cabeça parecia explodir e o coração angustiado batia como um louco, onde estás Inês?...
Um mundo de possibilidades povoa os meus medos. A falta de lógica de toda aquela situação estava a deixar-me louco. Nem 5 minutos tinham passado desde a minha atitude irreflectida e nem rasto dela... para onde poderia ter ido.
Na estrada, único caminho de acesso, não a tinha visto. Teria caído, ou saltado? A vergonha te-la-ia levado a um acto assim desesperado?
Sem saber o que fazer, meto-me no carro e sigo para a casa dela. O facto de ser impossível ter lá chegado antes de mim, não se punha como hipótese. Um homem desesperado não pensa, age, mesmo que a atitude seja a menos lógica e mais estúpida.
Sinto que voei aqueles quilómetros.
Num instante chego à rua do número 34, que durante a tarde ela me tinha referido. Como de costume, o senhor João carregava os últimos sacos do lixo do café, mesmo ao lado da porta da nova casa de Inês e onde nessa tarde a minha vida começara a mudar.

- Senhor João.... viu a Inês?
- Olá António, vi quem?
- A Inês senhor João, a rapariga que esteve comigo no café esta tarde.
- Contigo no café? Tu estás bem António? Tu estiveste sozinho esta tarde...
- Senhor João, deixe-se de brincadeiras, isto é coisa séria. Viu-a passar aqui?
- Oh António, queres entrar e beber algo? Estás com uma cara...
- Deixe-se de merdas!! Viu-a ou não???
- Juro pela minha santa mãezinha que estiveste sozinho esta tarde homem! Entraste, bebeste o café e saíste esbaforido e nem te lembraste de pagar, parecia que tinhas visto um diabo!

Um arrepio na espinha, faz-me estremecer todo. O senhor João acreditava mesmo que eu tinha estado sozinho naquela tarde. Estava louco, só podia.
Deixo-o na beira do passeio e dou-lhe as costas. O número 34 era mesmo ao virar da esquina.
Fios de fora, pastilhas coladas, o painel das campainhas parecia tudo menos algo que funcionasse, ainda assim, a do seu apartamento estava intacta.
Pressiono uma, duas, três vezes. Insisto. Vem me à memória a impossibilidade dela já ter chegado ali. Uma imagem dela, nua, estatelada nas rochas, com mar a lavar o sangue invade-me e as lágrimas caem sem que as consiga conter.
Perdi a conta ao tempo que tive o dedo sobre a campainha. Prestes a desistir, oiço uma voz do outro lado:

- Quem é???
- Inês? És tu??
- Você devia ter vergonha! Bêbedo!!! Não aqui nenhuma Inês, vá para casa ou chamo a polícia.
- Abre a porta Inês, ou rebento-a a pontapé!
- Mas você está parvo? Já lhe disse que não há aqui nenhuma Inês, e olhe que há mais de 20 anos que vivo aqui!

O tom sincero da sua voz desarma-me. Sem saber o que fazer, sento-me no passeio.
A chuva já não cai, o vento já não sopra. O que pode ter acontecido? Será que ela me mentiu? Como foi possível o senhor João não nos ter visto? E no farol? O que aconteceu?

De braços caídos, de coração desalentado, olhos mortiços e lábios a tremer, sinto uma mão tocar-me o ombro. Um toque que tão bem conheço.

- Vamos para casa?

Sem responder, levanto-me e acompanho-a.

15 comentários:

Ana disse...

ehehehehehehhehe, isto está a ficar interessante, tá sim senhora ehehehehehehehehhe.... será fantasma? será esquizofrenia? será macumba? sera mau olhado? ehehehehe

Lize disse...

:) Fico à espera dos próximos capítulos... :)

Nem sempre a realidade é aquilo que queríamos que fosse... É principalmente isto que este post me lembra :)


Beijocas :)

Estrela Cadente disse...

Mas que empolgante...ai ai, que curiosidade...
Bj

M disse...

Não sei o que diga...vou esperar...

Beijo

Sininho disse...

eheheh isto parece-me o filme mentes brilhantes para ele realidade para os outros fantasia eheheh... ;P

anseio o proximo capitulo

jokas

izzie disse...

Primeiro tenho que me rir em unissono com a Van.

Dps... uma só palavra: loucura. Retrataste-a tão bem... que a Lize chega a ter razão.

SRRAJ disse...

Aiiiiii ... agora é que me baralhaste ...

Anónimo disse...

gosto mais de prosa que de poesia. posto isto... acho que escreves muito bem, talvez devesses (se ainda nao o fizeste) pensar publicar :) so falta acabares a história...
boa sorte!

patapi disse...

Ai ai... Mas q filme... Será drama, terror, thriller... Só sei q a cada capítulo fico com vontade de ler mais, e mais e mais...
Espectacular essa tua capacidade de nos prender ao ecrã do pc à espera do próximo capítulo!
Beijos ansiosos

Sunshine disse...

Hummm... parece que o António adormeceu na cama com a Joana e que ainda não acordou... sonho bom ... sonho mau ... PESADELO ... aguardo o despertar.

najla disse...

Olha....o tipo passou-se!

Unknown disse...

Acho k o Toino tá a precisar de tratamento choque ;O)

Beijinhos doces

Miepeee disse...

Tenho ca para mim que o Tico e o Teco do Antonio foram de baixa por invalidez.
Beijinho.

Ana Rita disse...

A história é soberba! :)
Nem tenho palavras...
Eu volto.
Beijo*

carol disse...

O António, para além de louco é mal educado. Então o Sr. João dá-lhe a dica de que ele se esqueceu de pagar o café e o gajo vira as costas ao homem? Mau, mau... da próxima vez que ele entrar no café, o Sr. João devia fazer-lhe um manguito!
Gosto do rumo que a história está a tomar. ***